quarta-feira, 14 de abril de 2010
"Diz se é perigoso a gente ser feliz..."
domingo, 11 de abril de 2010
"Sunday, bloody sunday"
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
Manhã ébria
terça-feira, 29 de julho de 2008
Hijo de la Luna...
domingo, 27 de julho de 2008
Esquadros...
sábado, 26 de julho de 2008
Será mesmo um feliz aniversário?
Nesse mesmo dia, há um ano, viajando devido a um congresso, essa data foi comemorada com uma enxaqueca daquelas. Sim, é verdade... voltando para o hotel, minha amiga tentava me convencer para sairmos e comemorarmos, até porque estávamos numa cidade diferente e o clima seria propício para isso. Entretanto, me recusei, pois já estava com aquela dor insuportável. Como era noite e não conhecíamos bem a cidade, ficamos perdidos. Ao vermos um rapazola parado em um ponto de ônibus, paramos o carro, pedimos a localização do hotel o qual estávamos hospedados e ele, singelamente, disse que ficava próximo da escola a qual estava indo, pedindo para que déssemos uma carona a ele. Minha amiga, a motorista, me olhou como se me perguntasse "será que ele é perigoso? E se ele nos assaltar?". Mas num piscar de olhos, percebemos que ele era mais inofensivo do que um filhote de gato. Ao entrar no carro, ele puxou conversa, disse que era muito complicado ter de ir à escola, pois tinha que pegar dois ônibus diferentes para conseguir chegar ao destino desejado. De repente, ele se dirigiu a mim, perguntando: "e o senhor, é esposo dela?". Mal sabia ele que minha amiga é bem mais velha que eu e, naquele dia, eu tinha acabado de completar 22 anos, e, pra mim, seria bastante estranho ser "esposo" com essa idade. O fato é que ele nem havia visto meu rosto e, ao me virar pra trás e dizer "não, somos apenas amigos", ele se desculpou, pois havia percebido que de "esposo" eu não tinha nada. Dobrávamos esquinas e mais esquinas, parávamos em diversos semáfaros e nem o destino dele nem o nosso queria dar as caras.
Havia algo naquele percurso que me incomodava. Não era exatamente a dor que me atacava a cabeça, mas um cheiro... um cheiro conhecido, que ao mesmo tempo era bom e ruim. Alguns segundos depois, percebi que o tal cheiro vinha do garoto. Isso mesmo, era dele esse cheiro, mais especificamente do cabelo dele. Provavelmente era um condicionador de marca Neutrox que eu usava quando criança. O mais engraçado era o fato de eu me lembrar exatamente do odor desse produto sem ao menos ter contato com ele por, pelo menos, uns 12 ou 13 anos! No entanto, os problemas estavam apenas começando. Esse cheiro era algo que me incomodava, me fez voltar no tempo e relembrar de muitas coisas boas e ruins também. Acontece que não contive as lágrimas que, inesperadamente, começaram a brotar dos meus olhos. Tratava-se de um choro calmo, sem nariz escorrendo.... eram apenas lágrimas, as quais, por sorte, não podiam ser vistas por nenhum dos dois dentro do carro, pois era noite. Esse garoto, de uns 16 anos, com o passar dos quarteirões, era exatamente o oposto daquilo que suspeitávamos a princípio, isto é, de que ele poderia ser perigoso. Escorregando um pouco nas conjugações nominais, ele nos guiava: "agora a senhora segue mais dois quarteirão e vira à esquerda...". Isso era o de menos. Provavelmente devia ser um garoto de família humilde, pois, embora ele usasse o uniforme da escola, não usava nenhuma blusa de frio, e naquela noite estava muito frio mesmo. Ele disse que não estava com frio não, mas... sei lá, só sei que esse garoto foi o suficiente para me deixar inquieto. A gentileza e a educação dele me atraíam... era algo engraçado, como se eu pudesse fazer algo pra ajudá-lo, além de ter dado a ele aquela carona até a escola. E aquele cheiro, meu Deus, aquele cheiro... me remetia às mais distantes lembranças...
Chegamos a tal escola. Ele desceu do carro, nos agradeceu, minha amiga agradeceu pela ajuda, e eu fiquei apenas a olhá-lo. Ela acelerou, virei pra trás e o vi atravessar a rua, carregando um caderno e um estojo pequeno. "Adeus", pensei. E o cheiro não queria me deixar em paz, continuou me cercando até eu sair do carro, já no estacionamento do hotel, tentando, agora, enxugar as lágrimas pra que ninguém visse.
Elevador, terceiro andar, corredor, chave eletrônica, maçaneta, interruptor, cama. Me joguei com o cara no travesseiro e chorei, chorei, até soluçar. "Ninguém podia me ouvir mesmo", pensei. Aquilo era um desabafo por tudo o que tinha acontecido naquele dia, naquele carro, durante aquele ano todo, durante aqueles 22 anos que eu não podia impedir que se completassem.
Até que o telefone tocou. Era minha amiga perguntando se eu tinha melhorado e se havia mudado de idéia quanto à comemoração "daquele dia super importante", na concepção dela. Recusei, é óbvio, e fiquei ali tentando olhar através da janela, que estava meio emperrada. Era uma noite fria. E assim, passou-se mais aquela noite, marcada por uma intensa dor de cabeça, um garoto e um cheiro.